9.2.06


Alertada por credíveis fontes da sociedade civil, quanto à função, a que se juntaram as denúncias públicas, em reunião da Digníssima Câmara, quanto à forma, a bicicleta viu-se obrigada a mergulhar nos meandros do assunto do momento, a MORADIA UNIFAMILIAR.

As questões levantadas pelos munícipes e pelas investigações jornalísticas, bem como as explicações do sr. Presidente da Câmara e dos seus serviços de fiscalização e licenciamentos, do sr. Promotor que, por acaso, é patrocinador da Académica e dos srs. Vilões (construtores), não nos esclarecem quanto á principal questão que nos inquietava.

Fomos ao local.

A bicicleta está em condições de penosamente garantir aos seus colaboradores e amigos que se confirmam todos os nossos receios: dificilmente estaremos perante a construção de um lupanar*.
A conclusão advém de minuciosa análise e enquadramento da tipologia arquitectónica, que, foi fazendo cair, um a um, todos os requisitos mínimos para a suposta prestação de tal serviço. Vejamos, entre outros aspectos:
01. localização e exposição orientada para a zona da Conchada, conjunto urbana e sexualmente, muito pouco estimulante.
02. implantação no prolongamento de artéria histórica e assumidamente definida como aborto urbanístico (rua Machado de Castro), propositadamente sem saída, para evitar a fuga de vocações (seminário), que neste caso seriam duplamente tentadas.
03. desenvolvimento do edifício em altura (4 pisos) com desbaste e abate de elementos arbóreos (eventualmente sobreiros), indispensáveis para a aura de discrição, intimismo e aventura que obrigatoriamente se pretenderia.
04. implantação em L, com piscina exterior no meio. Se for o 50cent e a G-Unit, a sobre-exposição da pele junto a uma piscina é fundamental e obrigatória. Se for um cliente anafado, capilarmente pouco guarnecido, macilento e pálido, fruto de uma obscura existência de escritório, gabinete ou repartição, é obviamente necessário tomar as devidas precauções e é fundamental, na fase de projecto levar esses condicionantes em conta.
05. acesso directo e serpenteante desde a circular interna. Ou seja, se estivermos comodamente sentados no café Paris, by-the-window, não podemos ter a possibilidade de ver quem chega. Inadmissível e nada prometedor na promoção de boa-vizinhança.
06. estacionamento com dimensões generosas (dois pisos) mas insuficiente para uma importante franja de potenciais clientes, os motoristas de longo curso.

Trata-se assim de uma moradia unifamiliar, para uma família eventualmente maior que a população do Liechtenstein e sobretudo de uma oportunidade perdida, mais uma, para Coimbra, que vê fugir teimosa e recorrentemente, investimentos de garantido sucesso para outras paragens...

* do latim Lupa – loba, casa de lobas.

4 comentários:

tiago m disse...

bem, estou-me a rir desde há cerca de dez minutos sem conseguir parar; confirmo, a desilusão de que a casa do momento não tem as características para que fosse um ar fresco na cidade, agora que a Passarelle teve infelizmente que fechar por motivos perfeitamente menores

passado o riso, é preciso dizer que é extraordinário esta coisa que após um ano de alertas os fiscais da Câmara finalmente se deêm conta que de facto há irregularidades

e só temos este estado de consciência porque os moradores se mexeram, se uniram, contrataram um advogado e provaram como um movimento cívico pode colocar os poderes políticos em sobreaviso; parabéns a todos eles. A bicicleta até pediu a Martinho do Rosário (uma das gentes involvida no processo) um textinho sobre o problema; a ver se ele chega para o publicarmos.

Anónimo disse...

O mais cómico são declarações do dono da habitação que diz que estranha as declarações do presidente da câmara, pois inclusive o caminho aberto até a estrada foi feito com máquinas da câmara !

Anónimo disse...

Se isto é verdade:

" caminho aberto até a estrada foi feito com máquinas da câmara ! "

então está-se a usar meios públicos para obras privadas (note-se que o regulamento municipal obriga a que as obras de urbanismo envolvente - arruamentos, saneamento, etc. - sejam da responsabilidade do loteador/construtor. Por bem menos, presidentes houve que se sentaram no banco dos réus, esperemos, que aqui, o MP esteja atento e investigue.

Mas não se pense que é caso único, pois na cidade casos há que no mesmo loteamento construtores vêm a sua obra embargada (de facto, com licenças q nunca mais chegam) pq o construtor vizinho está para além da lei. Com este processo a câmara tenta fazer passar a obra ILEGAL no meio dos complicados trâmites usados para que a contrução legal seja aprovado, é que é só mais um papel. Imagino que seja assim:
A-"Então, vamos aprovar ou não a licença para a obra localizada no lote X, na Rua Y ".
B - "O que se passa com essa obra, porque é que estamos aqui outra vez".
A - "De facto há umas pequenas correcções a fazer: a cor do exterior não corresponde ao inicialmente aprovado, interiormente em vez de fazer cinco divisões, fez quatro. Fechou uma janela e teve de construir um muro de aterro que não estava no projecto porque descobriu-se entretanto um veio de água".
C - "Pois! Pois! Querem fazer-nos de parvos. Tem de se embargar"
A- "Mas as obras respeitam a lei"
B - "Pois respeitam"
C- "Tá bem, aprova-se"

(segundos de silêncio)

C -"Já agora a obra vizinha, tb só tem um promenorzitos como a anterior"
(Promenores: Construção de mais dois andares, construção de mais varandas, alargamento da área de implantação, contrução de gargens ocupando área verde).
A (desconhecendo o projecto) - "É?"
C - "Sim! Sim!
B (fazendo de conta) - "Mas olhe que não são bem a mesma coisa."
C- "É idêntico"
B - "Se você o diz..."
A - "Tá bem, aprove-se".

A é o naif;
B é o que não quer repsonsabilidades, não toca em interesses, mas pode sempre dizer que ele chamou à atençao (oh, santo)
C é o corrupto.

tiago m disse...

naiif, santo e corrupto…

obrigado pelo diálogo; isto aqui na bicicleta é sp a aprender!