23.2.06

old school


A ministra da educação anunciou, que o número de escolas primárias sinalizadas pelas DRE’s e pelas câmaras municipais como potencialmente em vias de encerramento, é cerca de 1500.

A situação é muito simples e pode-se contextualizar com a ajuda de dois exemplos paradigmáticos, com que me deparei, ambos no concelho de Arganil.
Num deles, numa povoação da freguesia de S. Martinho da Cortiça, funcionava uma escola, dois anos seguidos, com um professor e um (!) aluno e outra, na famosa aldeia de Piódão, funcionava até ao ano passado, com um professor e dois alunos. Ambos seus filhos...
Complemente-se isto com outros casos em todos os municípios, de escolas com 6, 9, 10 ou 15 alunos, dos quatro anos de escolaridade dentro de salas de aula frias e incómodas, com professores sozinhos e desmotivados. Alunos socialmente susceptíveis e pais pouco sensibilizados.
A medida parece a alguns cega e injusta. Não é.
O que é injusto e demagógico, é o discurso de alguns representantes políticos e até de alguns professores, que sustentam ser esta uma medida que promove a desertificação e o abandono consequente de 1500 aldeias.
É tudo uma questão de timming certo. Todos temos a noção que já fecharam, ao longo de décadas de instrução da população, muitas escolas primárias e todas pelo mesmo motivo: falta de alunos. Obviamente que decorre de anos e anos de êxodo rural, de emigração, de litoralização ou envelhecimento da população. O que acho inaceitável e repito, demagógico, é colocar nestas escolas com menos de dez ou vinte alunos, a responsabilidade de ponta-de-lança no combate à desertificação humana! Qual é o preço a pagar para manter estas escolas abertas? A desmotivação, o insucesso e o abandono escolar? Assim, obviamente que vamos manter essas crianças nessas aldeias. Sem perspectivas e sem futuro.
O processo de criacção de polos educacionais aglutinadores é delicado porque joga com questões como a necessidade de flexibilização de horários, alimentação, transporte escolar e, sobretudo, o apoio eficaz aos alunos deslocados (residências e acompanhamento). Mas é irreversível.
Parece-me que a atitude de (alguns) professores em contestar esta medida, será, bastante mais por razões corporativas do que filantrópicas ou sociais. As razões dos políticos que a contestam são conservadoras, irresponsáveis e populistas.

7 comentários:

Sofia Melo disse...

Estive ainda agora a ler este artigo do Público, e, realmente, a primeira impressão que pode surgir é a de que não será justo impedir a educação destas crianças nas suas terras. Se juntarmos todas as crianças que ficaram e ficarão sem escolas, termos já um número considerável. No entanto, não é viável ter um professor numa terra, a dar aulas a 1 ou 3 cianças. Mas também não é viável fazer com que toda a família destas crianças se desloque a sua vida para centros urbanos maiores, para os seus filhos irem à escola. Há pessoas que preferem subsistir nas suas terras. Bom era desenvolver mesmo, definitivamente, uma situação integrada, com redes de transportes eficientes, para mobilizar as crianças para centros educativos viáveis e que motivassem professores e alunos. Defendo essa a ideia de criar esses centros num regime que permitisse o alojamento e alimentação das crianças, para que não fossem obrigadas a deslocar-se todos os dias tantos km. Se é possível,provavelmente até é. Se há vontade disso... hum,não sei, será mais fácil fechar as escolas e por lá um autocarro para as crianças, a sair às 5h da manha, e a chegar às 8h da noite...

tiago m disse...

é um tema dificil, claro, fechar essas escolas significa seguramente que ninguem em idade escolar vai ficar nesses sitios; mas a situacao que tu referes tb não parece mto lógica...

e em Coimbra? alguma ideia quais as escolas que iriam ficar afectadas?

miguel p disse...

em coimbra concelho, não faço ideia se havera alguma sequer em risco,acredito que não.
o grosso delas serão no alto distrito e em viseu e na guarda e em bragança... enfim os suspeitos do costume.

Anónimo disse...

no distrito de coimbra certamente que haverão escolas a fechar (Góis játem plano definido). definitivamente a medida, entendida num plano geral, é perfeitamente adequada ao que se pretende para uma política educativa. No entanto, e não é só nesta área, rejeito em absoluto as medidas estritamente administrativas. A proposta (mal pensada) fez passar a ideia de que acima de um número X de alunos, ficam abertas, abaixo do número, fecham! Ridículo. Tal como no caso da fusão das freguesias... Há que contextualizar e decidir caso-a-caso! Não às medidas administrativas!

Anónimo disse...

caso tenham ouvido o discurso do sócrates hoje na AR... façam uma reflexão sobre o entendimento socialista (???) das medidas de política social a propósito do complemento solidáruio para idosos. O discurso neoliberal (da discriminação positiva) com roupagens de "vamos ajudar quem realmente precisa" deixa-me confusa... Afinal o governo é PS??!! Não que estivesse iludida! E o princípio da universalidade, generalidade e equidade na protecção social??? Diz ele que é uma forma conservadora de ver as plíticas sociais. Eu diria outra coisa!

miguel p disse...

as propostas de encerramento das escolas parte, em primeira análise, das camaras e das dres (direcções regionais de educação) ou seja, analisadas por quem as conhece melhor. caso a caso.

acho que este complemento solidário supostamente para os mais velhos e mais pobres, pode ser lido de vários prismas, mas apelida-lo de neo-liberal é que me confunde... alias a justiça da medida ninguém a pôs em causa, a oposição tem dúvidas sim, quanto ao método e forma de obtenção.

Paulo Coelho Vaz disse...

Deixei anteriormente um post a defender muita criteriosidade nas freguesias e não queria agora parecer ter outro critério, até porque os assuntos são diferentes.
Se por um lado devemos defender a possibilidade de cidadãos quererem viver em pequenas comunidades isoladas, longe dos grandes centros urbanos e com uma perspectiva própria, devemos também pensar que as pessoas e principalmente as crianças devem ter igual acesso às oportunidades.

E como podemos nós portugueses e Portugal garantir isso? È com escolas de 3, 2 ou 4 alunos? E com que professores? (Aqui confesso que tenho algum receio com esta classe, pois são os mesmos que defenderão a interrupção lectiva para ter reuniões e transformaram essa semana em férias… e não defendem coisas básicas como por exemplo poder reprovar um aluno que não tenha mérito…)
Mais uma vez esta não é um assunto linear, nem um assunto fácil. Espero o máximo bom senso de todos os intervenientes nesta questão, pois joga-se muito do futuro de Portugal.

Espero professores motivados e alunos conscientes, incluindo os pais, que o ensino pode trazer riqueza - económica, financeira, culutural, etc.

PS: Não vi o Sócrates hoje na AR. Mas não esquecer que ele está a fazer o trabalho mais difícil dos últimos 25 anos em Portugal depois, de 3 anos de incompetência bruta (coitada da Europa e de todos nós), de atraso económico, financeiro, estrutural e global da sociedade portuguesa. É preciso recuperar tudo em paralelo: o estado social, a economia, o estado de alma e os portugueses. Hoje há já uns sinais, uns “fumos brancos”, umas abertas.
Daqui a 2 anos, tenho a certeza, que até nos daremos ao luxo de não fechar as ultimas escolas, e ver como reagem essas pequenos pólos. Para quem esteve há pouco tempo em estado calamitoso, uma esperança é uma Janela de Vida.

E como dizia o escrito inglês nos anos 80: "there is a light, there's never goes out..."