11.4.06

as sombras da lusa atenas

JPachecoPereira veio dar uma voltinha a Coimbra, pelo que se lê no abrupto. Diz ele: «Sempre achei que devia haver algo de muito errado numa cidade em que os estudantes gostam de andar vestidos à padre». Esta observação denota bem um certo olhar. E, dissertando sobre as pobres livrarias e outros sinais que classifica como sintomas de provincianismo, conclui: «Província pura, o que em si não é mal nenhum, não fosse ser esta a terra da "Lusa Atenas"». Diagnóstico cruel, este, mas que não tem mal nenhum em ser reconhecido como um possível olhar! Afinal, à sombra da UC não há bananeiras, há pereiras!

25 comentários:

Sofia Melo disse...

OK, isto aqui em Coimbra não é propriamente Lisboa, ou qualquer outra capital europeia. Mas também não é o fim do mundo!!! Esses senhores que gostam tanto de andar por aí a mandar bitaites sobre tudo o que mexe (ou não), bem podiam ser um menos tendenciosos. Qual é o problema do JPP com o traje académico? Cá usa-se. Eu usei o meu até à ultima hora. E em Lisboa, bem que adoravam, quando a malta lá ia vender postais de Coimbra...

Anónimo disse...

Eu não sou grande adepto do traje e duma série de tradições académicas, mas a verdade é que tudo isso é usado, abusado e copiado pelas outras universidades. Mas o mais importante é a imagem que a cidade pode passar, independentemente de ser, ou não, a realidade. Relativamente a outras cidades, não me parece que Coimbra esteja péssima, devendo, sem dúvida, melhorar muito. O comentário de quem vai a Lisboa, vindo de Madrid, Barcelona e inúmeras outras cidades europeias, pode perfeitamente ser semelhante. Não fico contente com o comentário dele nem com o meu. O que era importante era termos centros urbanos atractivos e com novas ideias. Tanto em Coimbra como em Lisboa. Claro que há mais a fazer em Coimbra. Pois faça-se. Tenho esperança. Novos projectos vão surgindo. Espero que vinguem e se reproduzam.

Paulo Coelho Vaz disse...

Desculpem mas coimbra sempre foi assim!
Quando lá vão os abruptos tiram os livros interessantes das montras e das prateleiras (em especial os estrangeiros), vestem-se de preto tipo padre, tornam-se provincianos, e fazem aquele truque malvado de imprimir as notícias necrológicas em impressora a jacto ou tinta...
São uns snobes imperdoáveis!

Anónimo disse...

para provar que nem tudo é mau, o também lisboeta Pedro Gonçalves escreveu uma bela prosa no seu blog sobre alguém que conhecemos bem. Atebntem pois no dia
30 MARÇO 2006, no post "Get your kicks on Route 66!"

http://1poucomouco.blogspot.com/

S Guadalupe disse...

Confesso que também eu digo muito mal do burgo, por estas e outras razões! Chamo-lhe nomes, zango-me com a cidade com alguma frequência. Porque isto e porque aquilo, mas não posso admitir que alguém diga assim tão mal e de forma tão arrogante. Espero que as coisas mudam sempre para melhor, claro... Mas julgar uma cidade por apontamentos ridículos. Apoiado Paulo Coelho Vaz! Já agora, quanto aos livros estrangeiros que o senhor queria ver, e eu que sempre pensei que Portugal precisava de massa crítica que os escrevesse para não ter que importar de tudo... a capacidade de traduzir também não é um sinal positivo para a "indústria livreira"? Sabemos que as livrarias a que ele se refere quase só vendem manuais escolares, e pelos vistos, de direito... Um dia destes vou a LX aqueles sítios que sabemos e faço uma reportagem... Não há estudantes de capa, mas há putas! Passamos a ver LX com a cidade delas? Bem.. para argumentos ridículos já chegam os dele!

S Guadalupe disse...

No entanto não tive coragem para lhe chamar a atenção para tal arrogância. Ela sabe que é... enervante foi perceber que os comentários dos coimbrãos ao JPP foram até simpáticos, desculpando-o por ter visto tão pouco... Raios partam as vassalagens!

miguel p disse...

o jpp não disse mentira nenhuma e ele não é de lisboa, é orgulhosamente tripeiro.
a rapaziada de coimbra passa a santa vidinha a dizer mal da terra, mas quando vem alguém de fora e diz o mesmo, aqui-de-rei...

o anacronismo conservador do traje, não passa hoje de mero folclore, disseminado por todo o país. a questão é que, a academia de coimbra vem a pouco e pouco, a perder importância científica e intelectual para outras universidade nacionais.
é um facto. tal como a cidade.
leiam o que diz o eça da universidade e o torga de coimbra...

S Guadalupe disse...

Tens razão, miguel! Infelizmente para quem cá vive e gosta de cá viver!

S Guadalupe disse...

O dedo nas feridas dói sempre, mas o senhor poderia ter sido bem mais brando e cauteloso, pois, de facto, tira o todo pela pequena parte! E, para mais um chorrilho de frases feitas: quem não se sente não é filho de boa gente, etc e tal

Sofia Melo disse...

eh pá... "mero folclore" é que não...

S Guadalupe disse...

Então o que é, bluerussian? É farda escolar? Note-se que sou avessa às fardas, tanto com lógicas de esquerda como de direita. Curiosamente uma percentagem significativa de estudantes autóctones não usa... porque será?

S Guadalupe disse...

E quem não quer simplesmente saber nem da "verdadeira" nem da "falsa" praxe académica?! É bem verdade que não sei nada disso nem quero saber! Sou uma ignorante assumida que quer continuar assim quanto a tas matérias. Há tanta coisa para aprender e apreender... com ou sem embriaguez, respeitosamente, também por cá por Coimbra, veja-se!

Sofia Melo disse...

Nunca usei o traje como uma farda. Sempre quis vir estudar pra Coimbra, e quando vim, achei que o traje e restantes símbolos académicos individualizavam o estudante de Coimbra. Mesmo que o traje se tenha disseminado por todas as cidades com universidade, sempre q a malta saía de Coimbra com o traje vestido, toda a gente sabia que era malta da UC. Chamem-me provinciana, ok. Sou! Com muito gosto.

S Guadalupe disse...

Acho que está por aqui uma misturada de discussões... o traje e o provincianismo? Nã! Não tem correspondência. Quando afirmei que os autóctones pouco uso fazem dele, é uma constatação de uma esfera de pessoas que estão fartas de associar o traje a um período em que tudo se admite, desde que se ande fardado. É uma embecilidade, e não provincianismo. O uso é uma opção! Há quem se orgulhe disso, certamente não por ter dignificado o traje, mas ter-se dignificado por ter estudado por cá.

S Guadalupe disse...

imbecilidade, ok, manson?

miguel p disse...

ó pereira santos,
explica lá, se quiseres, essa do "extase da actualidade coimbrã", sff.

Anónimo disse...

Não sou de Coimbra.
Achei o comentário do JPPereira de uma arrogância imbecil de uma espécie de 'cristão-novo' (o gajo é do Porto, que também tem os seus provincianismos, mora em Lisboa, que em dados aspectos, provinciana é).
Tenho seguido atentamente o desenrolar dos comentários, apesar de não ter participado.
Para quem está de fora começamos com o comentário de um imbecil e já estamos a discutir o significado do uso do traje académico.
Achei giro. Os comentários são como as cerejas.

miguel p disse...

indelicado e arrogante é quem parte da imagem estereotipada da estudante que anda de aulas para o parque a apanhar bebedeiras, ó pereira.
a tua conversa de humildade e respeito, integração e entreajuda é muito bonita, mas não tem nada que ver com praxe ou tradição. a tradição é precisamente o contrário! és um revolucionário, pereira santos.
boa sorte na tua luta.

tiago m disse...

ele tem razão quanto às livrarias. é até um bom nicho de mercado, já pensei nisso…

no resto, é daquelas leituras superficiais de lisboeta elitista e arrogantes (ainda por cima do Porto!); começa com a falácia (não dita…) de que a cidade está pior e não se recomenda, quando, muito provavelmente, está melhor, mais aberta e mais cosmopolita do que alguma vez foi.

mas não podemos em Coimbra estar satisfeitos com o estado da cidade; temos uma cidade com uma história e uma beleza extraordinárias e isso é muito poder; difícil é conseguir conservar o bom e renovar/destruir/recriar/inovar. ISSO é mto difícil. (O mesmo para a Universidade, que em muitos campos está de facto a perder terreno). Eu Berkeley — do tamanho de Coimbra — as livrarias, os discos, o acesso à cultura é incomparável. Pior ainda, Berkeley é incomparavelmente melhor que Lisboa…

Quanto à capa e batina, aí está o paradigma perfeito do poder da história, da tradição e de como esse poder pode ser bem usado. Eu tive algumas dificuldades em comprar a dita, até que uma amiga pegou em mim e me obrigou. E fui aprendendo que há muito de partilha naquelas roupas com gente que chega a Coimbra de muitos outros lados, gente que tb se une assim. E liga-nos ao Eça, ao Torga a muitas outras gerações que passaram por aqui. E — caso mais prático… — é um símbolo identificável, útil nas várias revoltas, reivindicações que se fazem pela Universidade. Não tenho dúvidas que a capa e batina, como as mais diversas tradições, podem ser iguais a bafio. Mas bem usadas, dão um poder ENORME para quem tem a sorte de poder lançar mão delas. Coimbra só pode ser única se usar essas tradições, as reinventar e assumir.

afonso disse...

yes! o pacheco, o mais sobrestimado palrador da província bloguista e jornaleira, há até quem diga que tem ideias, consegue pôr "Coimbra" a falar de capas e batinas, que em vez de trajes ou roupas são robalos, representativas de uma unidade e realidade cultural tão integradora e contemporânea quão estéril que o mais que as livrarias conseguem vender em Coimbra são livros de Direito. Depois se repararem nas livrarias existentes na baixa coimbrã...há cinco, duas igualmente editoras especializadas em Direito, outra praticamente só virada para livros de estudo, um alfarrabista que não tem montra, logo..., e a de nome francês que é igual em todo lado...obrigado ó pacheco por algo mais que não tenhas lido ou te tenham dito ou que não soubessemos já, perdes "bué" de tempo a ler...para a estória da praxe reservarei outro momento, pois é, tem história e hoje é o quê?
beijinhos

tiago m disse...

ah, esqueci-me de dizer que eu acho o Pacheco um gajo com ideias e dos políticos mais estimulantes do burgo.

Mesmo que seja por vezes meio esquivo, e manhoso (a posição dele sobre o casamento gay é um delírio), e um elitista centralista do piorio para quem o país é Lisboa e o resto paisagem, o Pacheco Pereira é um gajo com ideias e com muita qualidade

caro Mason, estou de acordo quanto às livrarias da Baixa de Coimbra; e a mais importante conclusão deste debate é que devemos lutar para Coimbra se torne melhor nas suas diversas valências; mas queremos comparar com quê? com as da Baixa de Lisboa (igualmente paupérrimas que me lembre…)? Com o que alguma vez houve em Coimbra? Ou com as do centro de Oxford, Cambridge, Berkeley, Paris, Boston, Londres, NYC?

Paulo Coelho Vaz disse...

combra e realmente uma cidade que apesar dos meus 30 anos nela, me continua a intrigar!
apesar da sua secular universidade, apesar do excelente racio de licenciados e doutorados por habitante, parece que nao decola na excelencia do conhecimento, da investigacao, da cultura. sera facil perceber que outros polos urbanos de portugal tem aproveitado muito melhor o facto de ter uma universidade. tirando a medicina, existe uma incapicidade de se destacar, de marcar uma diferenca, de ser uma referencia.

nos ultimos tempos aquilo que mais se tenta destacar e simplesmente em banalizacoes económicas (dolce e forum) e desportivas (aquele estafermo do estadio gordo e balofo no area residencial) e a importância que o futebol (esse ditador de meia tigela) tem assumido na cidade.

e pena que isto assim seja.

faz falta muita coisa. coloquios internacionais sobre os mais diveros temas, empresas ligadas a investigacao que satisfacao os jovens estudantes a sair da universidade, actividades culturais e desportivas diversas e interssantes.

tanta coisa. coisas simples e banias para muitos

faz falta por exemplo que a universidade mais antiga de portugal tenha por exemplo cursos ligados a cultura… que se estude e ensine um instrumento particular de coimbra (a guitarra de coimbra). que haja opera e musica clássica.

que haja liberdade e esperanca

tiago m disse...

um outro ponto que tb me esqueci (está dificil, isto…)

Se contarmos todos os livros técnicos que existem nas livrarias da baixa de Coimbra, livros de Matemática, Biologia, Medicina, Informática, Geologia, Química, etc, muitos deles em inglês, é óbvio que não estamos perante livrarias "normais" de uma cidade de 200 mil habitantes.

Mas Pacheco Pereira, como quase todos os observadores/comentadores culturais/políticos vê cultura na reduzida, limitada e clássica definição do conceito. Um assunto que mereceu dois posts recentes aqui (DNA-RNA-proteína e Pi).

http://bicicletaderecados.blogspot.com/2006/03/protein-dna-rna.html#links

http://bicicletaderecados.blogspot.com/2006/03/31416.html#links

S Guadalupe disse...

Se o meu provincianismo fosse avaliado pelo número de livros noutra língua que não a mãe, estava condenada, apesar da já vasta biblioteca que há cá por casa (que o digam os hoemens das mudanças que tiveram de carregar os livrinhos). Quase só tenho livros técnicos noutras línguas (muitos em Espanhol graças à veia tradutora que eles têm).. depois sabemos que a coisa dos livros para a ciência passou há muito. A rapidez da produção e necessidade de divulgação só é compatível com periódicos. E as revistas de especialidade raramente são vendidas em retalho...

Enfim... as livrarias da baixa até que não são tão más quanto algumas de locais de passagem de turistas em cidades como Paris ou Frankfurt, que só têm livros em promoção e guias turísticos à venda, o que, comparando com edições portuguesas seja lá do que for... É produção própria! Nem só o que é importado é de qualidade, ou estarei enganada... Um dia detes vemos JPP deliciado junto ao basófias a ler os livros da MargaridaRP numa qualquer língua estrangeira.

S Guadalupe disse...

Já agora, quando esse senhor apareceu na nossa praia alentejana lá para o fim do dia, estaria acompanhado por livros em que língua??? Ou estaria à procura deles??? Eheheh