Baixa em baixa
Em Coimbra, segundo o Diário da mesma, a ACIC veio propôr a abertura das lojas ao sábado à tarde. Assume-se o óbvio! Sou adepta das Baixas (e de compras, em geral) e custa ver o deserto pontuado por uma ou outra loja que insiste em adaptar-se aos tempos ao lado das "que há por todo o lado". Mas o lado humano da mudança mantém a resistência. Compreendo bem. A minha mãe tem uma loja de aldeia, desde que me lembro. Por isso não tenho recordações de fins-de-semana por aí além nem mesmo de férias às quais possamos assim chamar. Ainda assim houve algumas, em tempos, outras que tivemos de dividir pai e mãe para poderem assumir a abertura alternadamente. Os feríados de família em Dezembro eram deslocados para as segundas-feiras, fechos compesatórios.... No Natal, a loja fechava já lá para as 20h, a tempo de jantar em família, mas sem tempo para rituais conjuntos de preparação da ceia. Agora, a minha mãe ainda piorou as coisas, diz ela que as pessoas gostam do pão fresquinho ao domingo. Perigosamente subjugada aos sinais dos tempos. Os centros comerciais vivem do trabalho precário de jovens que podem gerir livremente o seu tempo, já as lojas da baixa têm os mesmos empregados há muitos anos, que têm as suas famílias e se sentem no direito de terem fim-de-semana em família. Pois, algo fica a perder, sempre! Um amigo falava-me há pouco num ideólogo (já confessei antes que a minha memória já não é o que era, portanto não lembro o nome) que dissertava a partir da ideia de Marx das 4h de trabalho diário e era apologista do fim do trabalho como valor central da sociedade (capitalista, por isso mesmo). Não serei tão radical, mas reflectir a partir do dia-a-dia torna-se obrigatório! Os comerciantes também são pessoas, já pensaram quando é que eles fazem as compras? Gostaria de ter a Baixa ao sábado com muita animação, mas...
4 comentários:
Sei que não fica bem explicar piadas, mas para quem não é de Coimbra, cá vai: a mais famosa manchete do Diário de Coimbra foi "Faltou a Luz na Rua Visconde da Mesma". Agora pesquisem...
ehehehehehe... a piada é boa.
A minha mãe também teve uma loja, não de aldeia, mas de vila, que vai dar ao mesmo. Espantoso como as pessoas preferiam deslocar-se até Braga ou Porto, para fazer compras que poderiam muito bem fazer em Ponte de Lima. só pelo gosto de andar dentro dum centro comercial (agora com o de Viana, ainda foi pior...). eu também prefiro andar pela Baixa, corrê-la toda, e ficar depois na esplanada da Briosa ou do Santa Cruz no relax... mesmo que seja só ao sábado de manhã.
Eu também gosto de fazer compras (cada vez menos, curiosamente, mas gosto) e também prefiro a diversidade que qualquer baixa oferece versus a massificação das lojas todas iguais dos centros comerciais.
Mas admito qe que a adaptação às cada vez maiores exigências dos consumidores em geral não deve ser fácil, por parte do comércio tradicional. O mercado muda cada vez mais rapidamente e não é fácil acompanhar.
E não, guadalupe, nunca ninguém pensa nas famílias dos empregados antigos das lojas da baixa. O que é uma pena, mas a vontade consumista e com horários cada vez menos regrados, torna assim a realidade.
Mas acho que é um sinal dos tempos: não há horários para chegar a casa, para terminar o trabalho, para almoçar ou jantar, para telefonar (antigamente a minha mãe só me deixava telefonar até às 10 da noite), há televisão toda a noite, pode-se comer fora a qualquer hora...
Mas o comércio tradicional, enquanto continuar a oferecer produtos únicos e diferentes das lojas que toda a gente conhece, eu vou continuar a ir lá.
Portanto, já somos 3...
Não sei de quem o teu amigo falava, mas B. F. Skinner, o mais conhecido de todos os comportamentalistas, apresentava essa ideia de forma muito clara na sua utopia "Walden Two".
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