30.5.06

Timor

Olho as imagens de lojas pilhadas, armas a serem disparadas, timorenses a dizerem que os timorenses do outro lado do país não prestam e não consigo reconhecer o país onde passei os meses mais fantásticos da minha vida. E no entanto também não me surpreende -- em Timor nunca consegui perceber o país, a sociedade, o que os timorenses pensam, querem, ou até a relação deles com Portugal. Não é que não tenha tentado interagir com os timorenses, mas os mundos são tão diferentes, as vivências, as experiências, os quadros mentais tão distintos que a comunicação simplesmente não ocorre.

Por isso fico maravilhado quando vejo na televisão analistas políticos a debitarem várias teses sobre Timor, como nós somos queridos por lá, a falar dos australianos, etc, etc. É mais ou menos como os salazaristas de antigamente que achavam que aquilo era nosso e era apreendível a muitos, muitos, muitos milhares de quilómetros de distância. Mas será que não se aprende nunca nada?

(Um blogue engraçado, com uma descrição muito diária do que se passa em Timor pode ser lido aqui. É um blogue com tons marcadamente anti-australianos, um must da comunidade portuguesa em Timor. Malai é a designação que os Timorenses dão a qualquer estrangeiro.)

6 comentários:

S Guadalupe disse...

Para quem lá está (por ora refugiado em Camberra) essa diferenciação e acusação ao malai tem sido cada vez mais notória. E não será natural? O malai vai para lá trabalhar, ganha 1.000 vezes mais que eles e eles não vêm as coisas a andar tão rápido como esperavam... E há muito muito mais...

São as novas formas que o colonialismo assume, bem mais simpáticas!

Anónimo disse...

É que não se percebe o que está a acontecer. O que despoletou toda esta situação foi uma discriminação étnica nos despedimentos nas forças armadas. Pelos vistos, quem lá esteve, não se apercebeu da intensidade desta disputa.
Algum tempo depois, os ex-heróis desempregados foram readmitidos nas forças armadas, portanto, o problema estaria resolvido. Mas não.
Todos os dias é pior. Como se cada acto de violência incitasse outros no sentido da anarquia.
Não se sabe quem são 'eles', nem muito menos o que pretendem.
Como é que se lida com isto? Ó senhores políticos e comentadores - vulgo treinadores de bancada - como é que se faz?

Anónimo disse...

Pois eu estou sempre a ver se vejo algum dos meus antigos alunos entre os refugiados.
Até agora não vi nenhum.
Como muitos deles eram da 'província' - sim porque também em Timor o que não é Dili é paisagem - espero que tenham ido todos para casa.
Custa-me pensar que nas ruas que vemos na televisão havia crianças a venderem tangerinas (horrosas, diga-se de passagem) e onde nós andávamos à vontade, a qualquer hora do dia ou da noite...
Parece que foi noutra cidade e que essa é que é a real, esta é um pesadelo. O pior é que parece que nunca mais acaba...

miguel p disse...

eu não percebo nada de timor, mas dá-me impressão que o xanana está a fazer a cama ao mari alkatiri, com o apoio da igreja, que tem estado muito calada.

S Guadalupe disse...

claro que não percebes nada do que se passa em Timor, ninguém percebe. Nem os revoltosos! Não há reivindicações que se entendam...

Sofia Melo disse...

Caramba, há uma pipa de tempo, fartei-me de escrever (e mal sabia escrever) sobre a liberdade de Timor, e a necessidade da luta por esta. Apesar de saber que estas crises acontecem nos países recém-independentes, corta-se-me a alma quando vejo os noticiários. Poucos compreendem a finalidade-mor destas revoltas, e a comunidade internacional, parece-me, não se compadece lá muito daquilo que não consegue enquadrar devidamente, para tentar ajudar...