12.6.06

intelectua-futebolidades

Há uma guerra aberta entre intelectuais e futebol? Foi isso que percebi das palavras acusatórias do seleccionador. Entretanto vi Marcelo Rebelo de Sousa a comentar o jogo de Portugal... e José Medeiros Ferreira a desculpar-se por fazê-lo.
Com isto, não queiramos espantar-nos por ver futuramente Eusébio, Paulo Futre, Chalana, ou outros tantos, como comentadores residentes de política nacional, internacional ou economia na TV.

14 comentários:

tiago m disse...

lembro-me de ser adolescente e de ter de esconder que gostava de futebol meio por vergonha. agora é cool gostar de futebol e de repente não se pode abrir a televisão sem ter os jogadores da seleção, o que comeram os jogadores da seleção, qual a estrada que eles vão percorrer. é uma vergonha e ainda mais escandaloso que quando eu quero ver os golos do mundial tenho que ligar para as tvs estrangeiras para ver o que verdadeiramente interessa

o Marcelo Rebelo de Sousa é ridiculo; será que esta gente não consegue ficar calada? será que temos que ouvir as opiniões destes comentadores, peritos generalistas, baboseiras, generalidades sobre Timor a futebol, passando pela biologia e a política americana, sem perceberem um caracol dos assuntos.

foda-se, estou mesmo fartinho desta gente.

Sofia Melo disse...

Coitadinhos.. é a lei da polivalência!!! os patrões televisivos dizem: "malta, toca a dar rendimento: agora vocês falam de tudo, percebam do assunto ou não, que isto não há graveto para pagar a um comentador por assunto, e têm que ser sempre os mesmos, porque esses é que garantem audiências". depois tiveram várias acções de formação subordinadas ao tema "como falar de assuntos sobre os quais não se percebe peva". e cá está o resultado... falam, falam, falam - mas no fundo não dizem nada!! qualquer dia, os intervalos do jogos são de 1h, para montarem umas banquinhas para comentadores no meio do campo, e fazer um directo...

miguel p disse...

"lembro-me de ser adolescente e ter de esconder que gostava de futebol, meio por vergonha"???????

onde passaste tu a tua adolescência, tiago e o que te fizeram?
sei de rapazes que escondiam que gostavam do snoopy, ou do "meu pequeno pónei", ou dos wham!, ou dos tears for fears, ou de slows na matiné, ou do knight rider ou do macgyver, ou até do correio da maria.
mas não conheci nunca ninguém que tivesse que, por vergonha, esconder que gostava de futebol!

pressão erudito-intelectual na adolescência? brutal... e contraproducente, como poderias ter tu uma visão saudável do dito, depois de anos de repressão?

miguel p disse...

quanto ao post,
o futebol é importante demais para ser deixado apenas aos futebolistas.
a democratização (não a vulgarização) da análise, da opinião e do comentário, no futebol como em todos os assuntos, potencia a formação de opinião e diversidade de pontos de vista. não me choca porque não papo tudo, claro!
choca-me o cansativo zoom ao infimo pormenor do jogo e dos intervinientes. mas não vejo.

o futebol é popular porque é de longe o mais inteligente e emotivo desporto colectivo e se ganhou o estatuto que tem, não decorreu só de mediatização artificial. não se cativa ninguém pelo cansaço...

e, cá para nós que ninguém nos ouve, guadalupe: não és tu, que telefona para os programas de antena aberta na tv (ou na rádio) para comentares assuntos de futebol? e nem no teu jardim te vejo a dar pontapés na redondinha...

S Guadalupe disse...

bem... eu estava a falar de intelectuais, seja lá o que isso for. E, até jogava futebol mas gosto de deixar-vos à vontade... e até fui desportista (joguei hoquei em patins na 1ª equipa feminina da zona - agora parece-me impssível conciliar transporte de bola com transporte de mim mesma em cima das 8 rodas) e em tempos fui atleta da académica (velocista).

Não é que eu seja contra os comentadores... estava só a sublinhar a polémica existente e que hoje ganhou nova forma com a boca do Scolari.

Quanto ao Tiago, é bem verdade que não ficava bem aos adolescentes alternativos gostarem de futebol. Os códigos grupais eram outros cá por Coimbra, Mig.

S Guadalupe disse...

Ouvi um fulano (adjunto de Mourinho) comentar o jogo de Portugal. Foi a primeira vez que ouvi alguém que nada opiniou mas apenas se cingiu a questões técnico-tácticas. Não tem piada nenhuma, mas aprendi alguma coisita.

miguel p disse...

os adolescentes alternativos são iguais em coimbra, em braga, em setúbal, em aveiro, no porto ou em lisboa.
a intolerância inter-grupos, a ortodoxia e a "pureza" dos códigos é inversamente proporcional ao número de elementos do grupo.
na minha adolescencia e juventude, em lisboa, jogava com geeks, freaks, surfistas, punks, betos, heavys, proto-skins, anarco-depressivos, etc. e eram muitos, eramos muitos.
a questão é que uns gostavam e tinham jeito para o jogo, outros não tinham e a estratégia era a desvalorização, natural, do fenómeno.como estratégia até de auto-defesa.
ser alternativo não tinha nada que ver com futebol e o desenvolvimento da vida de cada um só prova isso.

S Guadalupe disse...

nem me lembrava que havia tanta tribo! um dia destes quero um post dedicado às tribos urbanas!!!

Sofia Melo disse...

porra... rapazes (diga-se, elementos do sexo masculino com mais de 1 ou 2 anos de idade, praí) que gostavam do "meu pequeno pónei"????? zazuze... é que tears for fears, macgyver ou snoopy era moda... mas o pequeno pónei (aaargh!!!)é demais! Mas realmente, esconder que se gosta de futebol na adolescência, é no mínimo estranho, ó Tiago.

tiago m disse...

nos meus idos anos de adolescente o futebol não era nada cool; um adolescente nessa altura não tinha as suas bandas favoritas a falarem de futebol, ou com t-shirts das equipas

havia frases como "cabelo à futebolista" para designar um cabelo foleiro, os jogadores não andavam na moda ou faziam anúncios vestidos com roupas de marca; os grandes nomes eram o Bento, o Frasco, o João Pinto, o Chalana, o Jaime Pacheco! Quem acha que podia, como adolescente urbano, assumir descansadamente o seu amor pelo futebol, não viveu em Portugal nessa altura, ou está traumatizado com o mundo da bola e pode ter problemas no convívio são com o maravilhoso jogo. (E isso explicaria muita coisa…).

quanto ao meu caso, e uma vez que a Blue Russian acha estranho eu explico; para além da questão geral, era também uma questão de desporto, ou seja, no Atletismo não era especialmente bem visto falar de futebol, ainda mais quando treinavas num estádio que tinha limitações para ficar bem na TV pra bola! (o que era uma completa estupidez e espero que tenha mudado)

mal se podia saber que nessa altura o Atletismo ainda tinha algum tempo de antena e o futebol não era totalmente dominador.

miguel p disse...

"Quem acha que podia, como adolescente urbano, assumir descansadamente o seu amor pelo futebol, não viveu em Portugal nessa altura"
estas UGT (Universais Generalizações Tiaguistas) são hilariantes.

se me disseres que viveste numa cidade pequena-média ruralizante, afastada do fenómeno e sem condições para o praticar, acredito. agora quereres convencer-te que a adolescência portuguesa urbana dos anos 80, se debatia com uma luta interna, consciente e reprimida para a não-demonstração do interesse/amor pelo jogo, é, na minha opinião, que sou da tua idade, muito fantasioso e errado. já que, no meu caso sempre fui desde puto ao futebol ao estádio, sempre joguei e nunca me senti ostracizado por isso e sobretudo, quando era, e é, este o mais praticado (e inter-classista) desporto entre os jovens urbanos, com maior numero de jogadores federados e não-federados.

em 84(tinhas 14 anos) portugal foi ao europeu, em 86 foi ao mundial do méxico e em 87 o fcp foi campeão europeu. em que altura destas te sentiste reprimido em demonstrar o teu amor pelo jogo?
eu lembro-me bem de chorar quando a frança marcou o 3-2 a portugal em 84, como de exultar pela vitória da itália ao brasil, em 82.

também pode ser por ser em ti, uma paixão recente. é possivel: namoraste com o atletismo, casaste com o polo e descobriste que platonicamente o teu amor sempre foi o futebol.

tiago m disse...

tens que rever os teus números; olha que o desporto com mais praticantes era o Atletismo (se incluires o INATEL que penso que não estava dentro do federado, embora fosse considerado federado). E aí, no Atletismo, sim, havia uma transversalidade inter-classista como eu nunca tornei a encontrar na minha vida, de urbano a rural, pobre a rico, etc, etc.

tb me lembro de chorar com o 3 golo da frança nesse europeu, ou de exultar com o Itália-Brasil. Mas isso não tem nada a ver com esta discussão!

A disscussão é se a adolescência urbana, bairro alto-like, demonstrava o mesmo amor pelo futebol que demonstra hoje; não tenho qq dúvida que o futebol NÃO era cool, e que NÃO era tema de discussão como é hoje; tu não tens qualquer dúvida do contrário; visões deveras inconciliáveis

eu lembro-me bem que as gajas não tinham nenhuma tolerância, interesse pelo futebol, ou pela conversa pelo futebol, ou por ir ao Estádio; que não demonstravam nenhuma admiração pelos Chalanas, Manuel Fernandes, Álvaros, Joões Pintos, Nicolaus da altura. E como tal era difícil aos adolescentes masculinos estarem tão à vontade como hoje na discussão do jogo. Tu não te lembras desta realidade. Talvez se perguntares em casa possar ficar com outra visão.

Visões inconciliáveis…

S Guadalupe disse...

caso queiram rever juntos o jogo portuga-frança, temos gravado em BETA... só dá para ver na casa da Figueira, onde está o vídeo desse sistema... E Podem chorar os dois outra vez!!!! Ficam lá os 2 a chorar, tomam conta das crianças e os restantes vão dar uma volta!

miguel p disse...

para o bem e para o mal, se há sitio onde passei a minha adolescência foi no bairro alto...

tudo bem, leva lá a bicicleta, são realmente visões inconciliáveis, experiências e percepções de vida diferentes em cidades e meios diferentes.
mas eu não generalizo.

e os futebol é realmente o desporto mais popular (até o inatel continua a ter campeonato, ainda...)e seguido, na altura, não pelo atletismo mas sim, e pasma-te pelo andebol. hoje é diferente, porque apartir da divulgação dos jogos da nba, o basket ultrapassou o andebol.
a conversa das gajas não gostarem de futebol na altura e agora gostarem é tão generalizante, como o facto de hoje também haverem mais adolescentes masculinos que não ligam ao futebol por haver outros motivos de interesse (consolas, desportos radicais, internet, acesso á música e multimédia em geral), comparando com as ofertas de lazer nos anos oitenta.