lust
a coberto de uma esfarrapada desculpa (uma despedida de solteiro), juntei-me em claque com um pequeno núcleo duro de amigos (homens), organizando um programa clássico de noite dedicada ao outro lado da sobriedade, do equilíbrio pessoal e do politica e socialmente correcto.
entregámo-nos ao jogo e ás mulheres (sim, a essas mesmo...).
a parte da jogatina revelou-se bastante enfadonha, sem qualquer tipo de glamour associado, sem sequer (e ainda bem para nós) uma plaquinha a dizer "reservado o direito de admissão"... tudo ao molho, slots com roletas, banca francesa com poker, etc.
facilmente identificáveis os estereótipos movimentavam-se e faziam o seu papel: os espreitas que não apostam nada, que só passeiam por ali, de mão dada com a namorada, entre um gelado da emanha e umas cervejas no pessidónio. os ocasionais, como nós que ficam a olhar para uma slotmachine como se fosse um cockpit de um boeing, apostam a exorbitância de €10,00 e recebem raramente e em extase, €15,00 na melhor das hipóteses e voltam seis anos depois. os habituais, geralmente entre a meia idade e a idade e meia, que correm os cem metros mais rápidos que o obikwelu, na altura da abertura das portas do casino, com a imbativel fezada daquela máquina prestes a parir umas centenas de créditos. e depois há os hardcore, de fácil definição mas de difícil compreensão, que despacham numa jogada de roleta, quatro playstations para os miudos e em outra um smart para a esposa (isto vendo as coisas pelo melhor prisma...).
a segunda parte e seguramente a mais aguardada, seria a entrada naquela porta secreta, que diariamente nos cumprimenta, discreta que está entre a pastelaria favorita, o talho e o quiosque do jornal.
o espaço, mais do que conhecido de todos por anteriores devaneios etilicos e roqueiros quando era uma simples discoteca alternativa, apresenta agora um enorme estrado com os inevitáveis varões inoxidáveis, onde dançam, se despem e se insinuam moças a.k.a. aviões, na sua generalidade.
e descontando o esvaziar de carteira associado à experiência (cês não pagam um drinki ás minina?...), a discutível escolha musical (supostamente ao gosto de cada cliente, que no nosso caso inspirou o dj para um set à-antigo-states...) e o panorama desolador da casa (com dois muito escondidos clientes, quando chegámos), o que fica da visita é mesmo a conversa com as moças. o que faz um grupo de oito marmanjos, num sítio daqueles, já bem dispostos e sem predisposição para eventual consumação de outros serviços associados? conversam.
e nisso fomos reis e senhores, em brasileiro, português, inglês, checo ou russo, nada ficou por perguntar ou por saber, sobre as vidas daquelas moças, que nos pintavam de forma glamorosa, muito viajadas, muito despachadas, muito vividas.
se eram verdadeiras ou fantasiosas, estou como diz o outro: "não deixes nunca que a verdade estrague uma boa história..."
ps: este post é dedicado ao tiago m, com quem tantas vezes falei do interesse da visita da bicicleta ao novo states e que por uma razão ou outra nunca se concretizou. terias sido um excelente elemento no processo de partilha de experiências e de promoção do saudável convívio com estas novas amigas aqui da bicla.
14 comentários:
tão entretidos que estariam decerto. enviei um sms ao qual respondeste "estamos em celas"... cujo destinatário não teve conhecimento ou esqueceu ou estava também muito entretido com a conversa. CREDO! Homens inteligentes e tão previsíveis... "jogo e mulheres"?! E as originalidades, ficam para outras alturas, né?
ah ah ah...
és a primeira mulher que eu conheço, que, aparentemente se queixa de ter originalidades nas outras alturas (ou seja, sempre) e previsibilidade nas excepções (ou seja, uma vez por década)...
ou percebi mal?
estaria à espera de coisas mais originais e mais vossas... isso é um elogio, pois então. fiquei desiludida com o cumprimento à risca do cliché. embora seja giro e tal, reconheço, cumpri-lo uma ou outra vez. que se tenham divertido e que não vos tenha saído demasiado caro (Jogo ou mulheres, às vezes dá para o torto! ambas as coisas é explosivo). Desde já fica sabendo que não quero saber pormenores. Jamais! Para decadente já tenho qb de exemplos!
ah, e já agora, se isso é um elogio à mulher que eu sou, podes repeti-lo! Se for ironia, "esquece-me"... ai a conversa...
E quanto é que pagaste por essa conversa?
Curiosamente, ainda ontem, uma amiga minha (sim, gaja), me esteve a contar que tinha ido a um desses bares com um amigo e que estiveram a conversar com uma das meninas que lá trabalham. O trabalho dessa menina consiste em conversar com os clientes, dançar com um varão de aço e fazer 'table dance' (que às vezes não é em cima da mesa, mas de um senhor que queria fazer de mesa). Por 2 águas sem gás, 2 martinis e 1 água tónica pagaram 98 euros.
Coimbra é tão cara como Leiria?
eh lá! que raio de reacção é essa, pá?
pronto, confesso: sinto um fascínio irreprimível pelo charme discreto da decadência e uma atracção imensa pelo imbatível descanso da previsibilidade...
maria
coimbra é mais cara que leiria ou então aproveitaram-se por sermos passarinhos, eh eh eh...
não percebi! estava a perguntar se aquilo de eu "ser a única mulher, bla bla bla", era um elogio???
maria, acho que eles carregaram nos preços por causa das águas sem gás! já se fosse com gás, a conversa seria outra certamente. todo o comum mortal sabe que as cenas a que alguns se sujeitam nessas casas podem sair muito caras. caso fosse mais acessível talvez perdesse o interesse...
bem... é um facto que a estas trabalhadoras não lhes faltam clientes, o fascínio criado por quem vende a sua companhia (ou qualquer outra coisa mais) é inegável, questione-se ou não a sua moralidade ou originalidade. No masculino, as histórias são exactamente as mesmas, em russo, em português do brasil, etc. O passerelle do jardim constantino (LX), passo a publicidade, dedicado exclusivamente às mulheres, é profícuo em informação desse género. Garanto que em termos sociológicos (noutros termos também, mas aí depende dos gostos...), é um local muito interessante: quer pela observação das mulheres q lá vão, quer pela cusquice sobre as vidas do staff... eles contam tudo, com verdade ou sem ela. Decadência, alguma, mas mais por parte de quem "compra", não de quem "vende", ao contrário do que se passa com o staff feminino.
Em suma, um sítio divertido. Com a clientela o mais variada possível. Os preços não são nada de astronómico, no que respeita às bebidas (as águas com gás não são assim tão caras)- já no que respeita à utilização do staff, isso é outra conversa.
pois obrigado pela dedicatória.
nesse mesmo dia, eu também, pela primeira vez na vida tive direito a entrar num sitio semelhante (sem strip, e mais virado para a consumação do acto!)
como vcs, acabei por dar imensa conversa –aí somos os maiores…– e pagar uma cerveja a uma minina. (a cerveja mais cara da minha vida, acrescente-se). Muita história, muita informação; e não podia concordar mais contigo que: "não deixes nunca que a verdade estrague uma boa história..."
as mininas são aviões mesmo; deve ser muito fácil um gajo passar-se e viciar-se naquilo; scary…
Tiago, nem acredito. Não me desiludas. Acho que apenas os grandes (e põe grande nisso)frustados podem correr o risco de viciar-se numa relação em que se paga a atenção exclusiva a peso de ouro. Tenho pena desse gente. Ser frustado deve ser frustante, e ai que redundâncioa tão pouco redundante! E não me parece que preenchas esses requisitos. Continua por outros "aeroportos", há tanto avião à espera da sua torre. Tenho a certeza!
A degradação humana não me fascina, só em filme, porque sei que há bons actores. Mas também um dia irei a Las Vegas e terei direito a fazer tudo que me apeteça. O contexto pede!
As "minina" puderam optar um dia em ser mulheres que se orgulhassem em sê-lo e em ser uma espécie de objecto que quer ser desejado para cumprir outros desejos. Na esmagadora maioria dos casos acho extremamente degradante e desprezo o mundo que alimenta este mundo. Mesmo por brincadeira, acho que todos favorecemos a existência de um mundo que não desejo para ninguém que me diga algo no mundo. Ainda assim não o ignoro, pelo lado do juízo de valor, pelo lado profissional ou pelo lado pessoal.
"não deixes nunca que a verdade estrague uma boa história" ?
"não deixes nunca que a MENTIRA estrague uma boa história" !
ó guadalupe... estás a disparar para todos os lados e a confundir muitas questões ao mesmo tempo (as moças são strippers, dançarinas e prostitutas. os moços são previsiveis, frustrados e decadentes) o que te turva o entendimento.
quem promove o negócio da prostituição é desprezível e criminoso. e já o é há milhares de anos.
quem o procura, ou ao serviço masi soft da conversa paga no sofá de bar de strip, pode faze-lo pelas mais diversas razões e a mais complicada delas é realmente a que assenta, não na luxuria ou na galhofa, mas sim na frustração e na solidão. e esse é um assunto muito sério e indesejável.
quanto ás moças, partires do principio que parte delas, na maior parte das vezes o livre arbitrio sobre as suas vidas é de uma grande inocência e injustiça.
mas, mesmo assim, não me parece que no caso das que adoptam este estilo de vida (strippers e alternadeiras, que como deves saber é diferente de prostitutas) seja impossivel de haver mulheres que tenham tanto orgulho em o ser (mulheres), como qualquer outra.
e o mercado de promoção do desejo alheio não se esgota nas casas de strip.
generalizações, preconceitos e juizos de valor, não são em nenhuma altura bons conselheiros, para nada e sob que prisma for.
Miguel, estás a ser injusto na análise que fazes do que escrevi e partes de alguns preconceitos acerca do meu pensamento sobre tal assunto. Há muitos mundos debaixo deste chapéu, tal como dizes. Evito (a custo, por vezes) moralizações assim como generalizações... mas todos nós tecemos juizos de valor relativamente a tudo, porque não a este tema?!
Estava a pronunciar-me sobre quem se vicia neste jogo, claramente num tom provocatório.
Relativamente à minha inocência... quem vende o corpo ou a alma, vende algo que é dela(e) próprio e não é crime. Acho sempre que, no limite, existe opção, mesmo que todos os caminhos da tua vida, desde que nasces, estejam rumo... depois de optares o caminho é quase sempre irreversível e não é bonito ou motivo de orgulho para muitos que o trilham.
Adorei ver em tempos filmes que adoro e que dão muito que pensar relativamente ao erotismo feminino/masculino tornado negócio. Há uma enorme beleza na degradação como dizes, mas as estórias reais adormecem-me estes sentimentos. Falo de "Noites de Cabíria" (Fellini) com a sua soma de (des)ilusões... e de "Vivre sa Vie" (Godard) com uma dose de auto-consciência avassaladora. São só isso, filmes, mas marcantes no meu pensamento que confesso altamente contraditório face a tais realidades. E confesso que tenho dificuldade em equacionar algo que não soe a algo... a que não quero que soe.
Miguel, não me baralhes, please.
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