ocidentes
a ideia de ocidente, tal como a concebemos, baseia-se num conjunto de democracias mais ou menos solidificadas, valorizada pelas suas diversidades e abordagens, tanto geográficas, sociais e politico-ideológicas.
no dia de hoje, saltaram-me à vista dois aspectos, que, quanto a mim se tornam paradigmáticos dessas diferenças, sobretudo entre a matriz de pensamento europeu e norte-americano (e.u.a.):
01. por um lado a diferença de reacção à condenação à morte de saddam hussein, devidamente reprovada pelos líderes europeus por uma coerente e óbvia defesa desse documento extraordinário que é a declaração universal dos direitos humanos, mesmo no caso de um ditador sanguinário que dela fez tábua rasa. é uma questão de civilização. foi, no entanto, motivo de regozijo por parte do presidente dos e.u.a.. mesmo que fosse a questão da guerra, o motivo de tal postura ( que não é), constitui um erro estratégico, já que a decisão não faz mais que extremar posições, já de si pouco ou nada conciliáveis e fundamentalmente criar um mártir.
a ideia dos e.u.a. sempre foi matá-lo. mas quizeram fazê-lo por intermédio dos iraquianos. chama-se a isto, comer a sardinha com a mão do gato...
02. neste pequeno texto, apercebi-me da dimensão da estratégia de campanha negativa (negative ads) nas eleições americanas, atingindo já, nesta campanha a redonda quantia de $160 000 000 (cento e sessenta milhões de dólares). refira-se que o valor referido como gasto em campanha positiva fica-se por uns singelos $17 000 000 (dezasete milhões de dólares).
interessa referir que esta estratégia não é característica de apenas um partido, já que os valores gastos tanto por republicanos (87 milhões) como democratas (76 milhões), são perfeitamente demonstrativos e falam por si.
também aqui se nota uma claríssima diferença entre estes e os processos democráticos na europa, onde mesmo nos países do sul, mais dados a dramas de facas-e-alguidar, estas campanhas de espírito negativo, personalizado, (falso) moralista e boateiro, não acolhem (pelo contrário), grande simpatia ou pelo menos não influenciam o voto da generalidade dos eleitores.
tome-se o exemplo da campanha negativa levada a cabo por santana lopes e o pelo psd (pela mão da jsd), com cartazes de mensagem negativa personalizada (contra sócrates e outros antigos ministros) e pela tentativa de cavalgar a onda de uma suposta homossexualidade do candidato do ps.
ps: não resultou. mas no país do apitos dourado, da casa pia, da floribella e dos morangos, do alberto joão, das elsas raposos e dos castelo-branco e companhia, é de esperar que seja uma questão de tempo...
6 comentários:
15:59 - Notícia de abertura do notíciário da TSF das 16:00
O Presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, acaba de condenar a condenação à morte por enforcamento de Saddam Hussein.
Isto porque leu o post do Miguel P, e achou mal Portugal não estar ainda incluído no "conjunto de democracias mais ou menos solidificadas, valorizada pelas suas diversidades e abordagens, tanto geográficas, sociais e politico-ideológicas", seja lá o que isso for.
e eu acho que ele fez muito bem. tu não?
Acho que sim, óbvio. Onde está o Governo de Portugal? A "estudar" o dossier dos vôos secretos da CIA? Há que admitir que no que respeita ao Iraque a posição do nosso governo (PS e PSD) fede a podre, morte e mentira.
olha que eu acho que o ministro dos negócios estrangeiros, também já veio associar-se à posição da união europeia, de condenação ao enforcamento.
em relação à intervenção no iraque, hà dentro do ps diferentes opiniões (de jorge coelho a antónio vitorino a luis amado, passando pelo próprio sócrates e do ex-ministro freitas), pelo que me parece. o que é diferente da posição pró-bush do psd.
e a que fede a posição do pc em relação à coreia do norte?
há questões que nos diferenciam claramente e ainda bem! Que continuemos assim, orgulhosamente... a Europa é uma senhora que toma chá, não às coico, mas quando lhe apetece. É uma senhora que se senta nas tradições mas não ficou presa a elas. A Europa não é só diferente dos EUA por ter castelos. Se há algo que unifica a Europa é "o aspecto" (que implica muitos aspectos) que apontaste.
Claro que nos EUA também há uma camada populacional que não embarca no folclore a que nos habituámos a constatar. Se ainda não conseguiu impor-se, jamais o conseguirá, pois a tradição aqui pesa muito. Oh se pesa.
E é vê-los a jogar ao "enforcado"
a questão dos anuncios negativos é fascinante; o público diz repetidamente que não gosta deles, mas no entanto é a eles que melhor responde. é também uma faca de dois gumes – mto frequentemente favorece o atacado por o vitimizar. Por outro lado os anúncios negativos são os que têm mais substância, ou seja, aqueles em que mais se define o que cada candidato verdadeiramente pensa – mtas vezes é mais fácil a definição pela negativa
(os Morangos com açúcar são uma boa série para adolescentes; bons temas, diversificados, bem feita, bem produzida, sempre a rodar, com substância, etc)
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