o mata-frades
a câmara municipal de coimbra continua a sua senda tradicionalista, beata e folclórica. numa cerimónia de evocação ao 9º centenário do nascimento de afonso henriques na presença do sr. presidente da autarquia, somos levados pela mão de um tal de santos martins que, defendendo que coimbra seria não só o local de nascimento de afonso I mas por causa disso, se tornava n'"o altar-mor da Pátria". nem mais. nem menos.
ora bem, cavalgando esta onda, o senhor propunha a criação de uns "caminhos de sta. cruz" à medida dos "caminhos de santiago", que pudessem conduzir os peregrinos de todo o país até ao real túmulo.
não contente com isso, propunha-se a retirar a estátua de joaquim antónio de aguiar, do largo da portagem, para então colocar no seu lugar o primogénito rei. na sua teoria, conimbricense.
é aqui que eu me coço todo. porque razão retirar a estátua do joaquim antónio de aguiar?
para quem não sabe, este senhor nascido em coimbra, liberal do séc. xix, teve na sua acção de estadista (ministro) variadas e reconhecidas intervenções, principalmente em termos da reorganização administrativa do país (municípios) e sobretudo na extinção das ordens religiosas e incorporação dos seus bens na fazenda Pública, facto que lhe valeu a alcunha de "mata-frades".
são então contas antigas e nada melhor que aproveitar um executivo beato e folclórico, que troca a europa pela rainha santa, para servir de lombo a uma cavalgada de alcance mais profundo.
e curiosamente substituindo quem lá está, por alguém que surgindo-nos aos nossos dias e aos nossos olhos, e muito bem, como o pai da nacionalidade, teve no fundamento da sua acção a perspectiva de expansão da fé, numa abordagem fundamentalista, aconselhada e fomentada pelo clero de braga, no que hoje poderia ser considerado um genocídio por motivos religiosos, sobre a realidade islâmica, a sul que representava naquela altura o expoente da cultura e da ciência, multiculturalidade e a tolerância religiosa. ironias da história.
3 comentários:
o senhor chama-se SANTOS, pois então. Se por um lado a cidade avança com um museu da Ciência, por outro... a "cidade do conhecimento" que se insurge contra a "cidade museu" não tomará forma nunca... beato e ignorante
Bem, a estátua do Joaquim António de Aguiar foi sempre uma pedra no sapato de uma "certa" Coimbra, aliás da última fez quiseram troca-la pela da Rainha Santa. E existem muitas outras histórias interessantes em redor da estátua, que na realidade nunca foi, quanto sei, inaugurada oficialmente.
uma dessas histórias é a de uma tal família de Coimbra que, zangada por perdas de bens provocadas pelo Mata-Frades há não sei quantas gerações atrás, continua a pagar ao jardineiro da câmara para ir partindo as placas da estátua da portagem que aparecem sempre que a câmara decide substituir a vandalizada...
:)
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