2.1.07

a quadra

para um altura geralmente calma, em termos de noticias (tradicionalmente pontuada pela excepção dos habituais desastres com aviões e barcos no extremos oriente), a quadra festiva deste 2006-07, brindou-nos com um conjunto de acontecimentos, em ramalhete, muito significativos e preocupantes (apesar de nada surpreendentes):
primeiro, mais um caso de morte de uma criança vitima de maus tratos, desta vez em monção, depois de ter acontecido no algarve e no porto e em oeiras e em todo o país. é talvez o mais incompreensível, revoltante e macabro desporto nacional. a mãe justifica-se dizendo que era esta a mais irrequieta de todos os filhos. a situação já tinha sido sinalizada (que é um termo sempre utilizado nestas situações) pela comissão de acompanhamento de crianças em risco. sem por em causa o trabalho destas pessoas, que é ingrato porque tem de ser antecipativo, uma morte é muito mais que um caso perdido ou um número estatístico.
segundo, um atentado terrorista da eta, em madrid. algo com que já não contavamos, devido nem tanto ao anúncio de tréguas, mas pelas disponibilidades negociativas demonstradas pelo governo de zapatero. correu mal e tem já, injustificada e dementemente, manifestações nas ruas a apelidarem-no de assassino e cumplice da eta. é um rude golpe na esperança do entendimento politico e o calcanhar de aquiles de zapatero, jà que a economia continua em alta.
terceiro, o enforcamento de saddam, do qual tenho pouco a dizer, a não ser lamentar a forma encontrada (nada justifica a pena de morte e neste caso até o mais simples raciocínio politico levava a evitá-la) e a maneira como foi universalmente difundida, tornando-se rapidamente o homem em mártir e a imagem em icon pop, aparecendo na generalidade dos telemóveis dos jovens iraquianos, enforcado nos dos xiitas, de arma na mão no dos sunitas. morreu o iraque. resta saber se é uma boa ou má notícia.
por último, o trágico e desesperante naufrágio, literalmente na praia, da nazaré, de um barco de pesca e que resultou na morte de cinco pescadores. tudo indica que terá falhado a rápida intervenção de salvamento por incompetência ou incúria ou erro de análise. a confirmar-se é vergonhoso.

3 comentários:

S Guadalupe disse...

Em turbilhão.
Alguns acontecimentos terão repercussões globais e preocupantes (mesmo que antecipadas). Outros terão ecos circunstanciais...

Uma vida é sempre uma vida, seja de que forma for vivida. Não faz sentido matar e deixar morrer assim. Seja por ter cometido crimes hediondos, seja por ter optado por uma profissão de risco, seja por ter nascido num contexto que ao invés de proteger, agride!

Anónimo disse...

É isso mesmo, não fazem sentido estas mortes vistas assim, mas fazem todo o sentido vistas de outro lado.
As comissões de acompanhamento estão pejadas de gente incompetente e não têm verbas próprias - famílias de gente miserável sem acompanhamento...
No Iraque mandam os americanos, que para ali foram como arautos dos direitos humanos, americanos que defendem a pena de morte. Que outra coisa esperar senão a morte dos seus inimigos? O Saddam também ia passar a utilizar o Euro como moeda de referência para o petróleo, como fez agora o Irão, que escapa de ser invadido porque as coisas no Iraque estão a correr muito mal para o nosso império...
O diálogo com a ETA estava a ser uma verdadeira conversa da treta, estava tudo na mesma em relação às questões levantadas pelos autonomistas, a única diferença é que a ETA já não matava, agora já mata outra vez...
Aquele barco de pesca não perdeu o controlo, indo parar a uma zona perigosa, aquele barco de pesca andava a pescar numa zona proibida, interdita até por razões de segurança. E com as suas redes acabou por levantar duas questões: a vigilância sobre os locais permitidos para a pesca e sobre as espécies capturadas e os meios existentes para acorrer a situações de crise no mar em horários laborais para uns e de descanso para a maioria...

Venham mais misérias humanas, que já estamos habituados demais. Todas serão poucas para despertar consciências neste mundo de gente distraída...

S Guadalupe disse...

João paulo, quanto à 1ª questão...

Há muita gente incompetente em muitas áreas. Esta é, sem dúvida, uma delas. Infelizmente!

As CPCJ não têm verbas próprias e são raras as que têm técnicos próprios. É uma área demasiado sensível para andarmos a brincar ao trabalho em rede (que nunca o é)... Acaba por não existir pessoal com formação adequada, capaz de reconhecer eficazmente factores de risco (por vezes muito ténues, dificilmente comprováveis, e graves).

Daí até serem responsáveis por mortes... Há situações demasiadamente imprevisíveis no foro do espaço íntimo. Mas... este, pelos vistos, não era!