27.3.07

salazar

exultam os blogs fascistas, salazarentos e nacionalistas (que me escuso, por questões higiénicas, de linkar) pela vitória do botas, no programa "os grandes portugueses".
e é um facto que ganhou.
mesmo confirmando a (pouca) credibilidade e efectividade do programa, mesmo achando igualmente absurdo o segundo lugar do cunhal, mesmo assumindo que se tratou de um voto militante e por isso direccionado e repetido, mesmo assumindo que o voto não-militante de quem se quis associar ao programa se diluiu pelos outros candidatos, mesmo que a rtp disponibilize uma sondagem de opinião credível que aproxima a realidade da opinião da sociedade portuguesa na classificação dos seus grandes. o facto é que o morto mais vivo do imaginário português ganhou.
tenho pouca vontade de tentar justificar tal ocorrência, resta-me considerá-la importante, preocupante e reveladora.
reveladora de quê: da ignorância histórica, da falta de cultura republicana, democrática e ética, da falta de distanciamento cronológico, da gradual capacidade de organização da extrema-direita, da existência putativa de resquícios reaccionários, ressabiados ainda pela questão colonial e sobretudo, mais que salazaristas, anti-soarista e anti-democráticos.
custa-me, não que salazar faça parte das opções para os grandes portugueses de sempre (tem tanto direito a ser como eu), mas que o seja realmente considerado. que haja gente suficiente que se mobilize para tal aconteça. gente que relativize de forma incompreensível, tudo o que tal figura representa. gente que permita que morto, ganhe uma votação que em vida sempre evitou.
resta-me a certeza de que as gerações vindouras farão a justiça sobre tal figura, remetendo-a, daqui a 500 anos, ao insignificante parágrafo que merece, enquanto camões e pessoa continuarão a ser estudados, traduzidos e louvados.
quanto maior a distância, mais clara é a dimensão dos grandes homens.

7 comentários:

Anónimo disse...

Miguel, um texto tão longo para uma só conclusão:
- os Portugueses estão fartos dos actuais políticos e da sua forma de acção!

miguel p disse...

discordo, caro anonimo.
nenhum dos outros nove era um politico actual.
e pensar na possibilidade de um voto de protesto ou de divergência com a acção de um governo democrático ou de uma oposição, ir directo para um ditador é desconcertante, não?

S Guadalupe disse...

o melhor é esquecer isto rapidamente, talvez desapareça... eh eh eh!
a apologia da ignorância teve os seus frutos!

e que vontade, de repente, em ter outra nacionalidade não partilhada com estas gentes... raios partam a pluralidade democrática!

e viva la espanha... esses ao menos têm uma família real simpática, que nem envergonha nem chateia... e têm um túmulo de franco bem metido na rocha e que até dá para pisar! olé!

Anónimo disse...

Jorge Mourinha resume tudo na perfeição:[http://mourinha.blogspot.com]
«Segundo os espectadores da RTP, os três maiores portugueses de todo o sempre são do século XX: um ditador que deixou o país na ignorância, um político comunista fundamentalista ortodoxo e um diplomata abnegado que se sacrificou pelos que estavam pior que ele.
Não sei se já olharam bem, mas é um quadro muito português. Um pai tirano, um filho revolucionário, um bom cristão.»

Anónimo disse...

Santa ignorância.

Anónimo disse...

Santa ignorância.

Anónimo disse...

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=791598&div_id=291