9.4.07

queixa ao provedor

Adoentada nas férias, espreitei mais tempo do que é habitual a programação da RTP Internacional. Vi o programa "A alma e a gente", episódio "hoje vamos à Feira", sobre o castelo de Santa Maria da Feira, onde o sr. José Hermano Saraiva tem o espaço habitual para dissertar sobre as suas teorias fundamentadas em "sabe-se lá o quê". Ainda que febril, não pude deixar de ficar profundamente ofendida (se bem que à espera de ficar...) com dois comentários que produziu acerca da moral de uma lenda que contou no seu final que aqui reproduzo:

“(…) A bruxa tranquilamente entra no castelo, deixou de ser bruxa, continuou a ser a doce donzela que ensinou aquela gente a boa religião cristã e foi dessa maneira, conta a lenda, que a gente da Feira esqueceu o Corão e passou a rezar ao verdadeiro salvador do mundo. Tem mais episódios a história, eu disse o essencial, mas reparem isto é uma história do tempo da luta dos mouros com os cristãos, no tempo difícil do contacto das duas raças, é das histórias mais interessantes do romanceiro medieval português.(…)”

As expressões "a boa religião" e "rezar ao verdadeiro salvador do mundo" atentam contra os mais fundamentais valores da CRP. Senti-me ofendida enquanto portuguesa e enquanto cidadã que paga os seus impostos que alimentam este serviço público que, por sua vez, alimenta este tipo de programação que inclui este tipo de pessoas à frente.
E toca de escrever uma queixa ao senhor provedor do telespectador da televisão pública. Ora esta...

5 comentários:

tiago m disse...

inenarrável o bom saraiva; o bom representante da estética salazarista. É extraordinário que ande por aí. Ah, somos mesmo um povo de bons e brandos costumes…

S Guadalupe disse...

o homem tira-me do sério... e não resisti a esta tirada que o revela como é... e que incomodou o meu descanso... para apresentar uma queixa!

É incrível.Ao que parece o programa dura já há 7 anos.

E na RTPI é traduzido (legendado) para inglês!

S Guadalupe disse...

Quando penso nele e no salazarento que é, evoca-se em mim o cheiro a naftalina!

Anónimo disse...

Tomo a liberdade de deixar um reflexão/provocação assumida:
Bem vistas as coisas, a emissão do programa pode efectivamente ser puro serviço público. Afinal, que pluralismo televisivo poderia deixar de fora esta minoria(?) dos que que pensam na "boa" e "má" religião sem assim fazer censura? Depois, os sobreviventes do tempo e ideologia do Estado Novo (é o caso) também pagam impostos e têm o seu direito ao espaço televisivo... e, a atender ao resultado da votação nos Grandes Portugueses, não serão uma "mancha" tão insignificante assim?... Eu, à cautela, nestas coisas do pluralismo e da liberdade de expressão, por maior que seja a minha repulsa pelos que não ligam à CRP, prefiro aturar um inofensivo mentiroso que um culpado verdadeiro.

miguel p disse...

o jhermano saraiva já é um icon pop. e é-o, claramente para uma fatia muito bem definida da sociedade: românticos, saudosistas e motoristas de taxi.

quanto ao programa, não deixa de ser um programa de autor, muito personalizado e parcial, mas de autor...